quarta-feira, 2 de junho de 2010

Máquina-do-nada

Nos elétrons e átomos das transfigurações absolutas
O homem traz a extraordinária maquina-do-tempo...
E numa viagem estupenda além do tempo
Assistir Gilgamesh ou César em suas grandes lutas!

Ou talvez Cristo martirizado, ou talvez abruptas
Estroinices nas pirâmides do lamento...
Hórus mitônimo nas veias de Menes, ou o acasalamento
Dos Dragões nas cavernas ocultas.

E o homem, correndo sem a calma do gozo
Na evolução do caminho monstruoso
Encontra, o Ancestral macacóide arbóreo! E na manada

Humana imprescriptível e emocionante,
Pára, além da atividade psíquica vacante
E encontra Deus! sem ciência, sem máquina, sem nada...

Dualismo

Chega através da luz a sombra abismada,
Que aos passos rotativos da terra estão adjuntos.
O sol e a lua mesmo separados estão juntos
Nas simultaneidades do nada!

Nos antagonismos da lucidez alada
Estão as asas da matéria e de espírito, juntos.
E na incompatibilidade da lucidez dos defuntos
Terrenos, rastejam-se na antipatia abalroada...

Vejo rugir na multidão do Niilismo
O terrível sacramento do Exorcismo.
Já Eu, compelido pelo peso do leve

Jazo na duna como um Dragão,
E como uma formiga, sou jogado por um furacão
Nebuloso, para a imparcialidade da neve.

Defectivo

Não sei, mas, falta-me um Orbe da alegria,
Um Orbe da alegria em mim falta.
Quando escrevo, algo em mim se exalta
Na profundidade da minha alma fria!

Falta-me a luz daquele dia
Lisongeadamente grande e alta,
A luz que outra luz assalta,
A luz que não ouviu a minha melodia...

Falta-me aquela radiação eletromagnética
Física e espiritual, aquela estética
Rutilante - o brilho repentino! -

Falta-me, nesta vida o que não vejo,
Além da ultramonstruosidade do meu desejo!
-Oh! falta-me a luz do Divino!

Vencido pela vida

Ò meu pão germinado pela vida, verme
Que me alimenta de podridão e peçonha,
Que me abraça e acalenta, medonha
Úlcera desde a origem desse verme...

O ar que respiro é o núcleo, é o cerne
Da minha cabeça, que nem ao menos sonha
Viver na ventura da vergonha
A ridícularidade dessa fraca epiderme!

Já essa vida, essa vida de dor que arde
Nas fortalezas das pálpebras que tremem
Sempre entra pelas glândulas do covarde...

Compelido pelas forças do sêmen
Que já está formado, é tarde
Para aborto, e o que dói são as lágrimas que gemem...

sábado, 1 de maio de 2010

Ceticismo

Tenho câmaras de reflexão em meu quarto
Como um capitólio sem Whasington e sem ateus.
O templo em que medito os sonhos meus
Tem uma pequena clarabóia onde me farto.

Não lembro de minha infância nem de meu parto,
Nunca acreditei num febo e em nenhum zeus,
Quando duvido, o meu ioga é Laus Deo...
Sou fraco, mas dessa fraqueza me afasto...

- Oh! altar do ocultismo que me aterra!
Se o verdadeiro ceticismo é a guerra
Choro de pé entre essa guerra e assisto.

-Ah, dúvida do meu coração tão desgraçado!
Se no verdadeiro ceticismo não fui envenenado
Oro de joelhos aos pés de Cristo!

Dor

- Ah! que pesar é esse que me afunda a chaga
Como uma pancada? - Chora coração,
Respira na mágoa que a tua artéria afaga...
Que as tuas veias cavas são clarins da solidão...

Neste corpo que o meu músculo esmaga
Tirita como as cordas de um latente violão
A artéria cheia de lama, a veia que amarga,
E os tendões quebrados de minha mão.

(A dor me matou!) Mágoas obscuras
Do meu sofrimento, gritos que vem me afligir,
Vulcão de enfermos nos meus trilhos...

Não vos buscareis, células futuras!
Não deixarei tal legado atingir,
A grande inexistência de meus filhos!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ambivalência

Punge o teu peito ferido com a sombra que passa
Sobre e a tua cabeça, sejas rutilante e sombrio:
Da carne sorve o penetrante frio,
Mas a luz da alma não fuja para a desgraça!

Morde como um cão a mão que te abraça,
Que, essa que te abraça, das lágrimas faz um rio
Para que tenhas dó, pena, e chore a fio,
Deixe que a alma chore, é para ti uma graça!

Vibra triste este lastimoso verso, com melodia
Entre a luz, e loucura entre o furor da covardia.
Veja-o morto dentro de uma sepultura,

Sexualizado de morte - Berço Tirano -.
Pega-o, sem o engano do véu e do pano
E leia-o, sem o segredo da carne e da ternura...