sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ambivalência

Punge o teu peito ferido com a sombra que passa
Sobre e a tua cabeça, sejas rutilante e sombrio:
Da carne sorve o penetrante frio,
Mas a luz da alma não fuja para a desgraça!

Morde como um cão a mão que te abraça,
Que, essa que te abraça, das lágrimas faz um rio
Para que tenhas dó, pena, e chore a fio,
Deixe que a alma chore, é para ti uma graça!

Vibra triste este lastimoso verso, com melodia
Entre a luz, e loucura entre o furor da covardia.
Veja-o morto dentro de uma sepultura,

Sexualizado de morte - Berço Tirano -.
Pega-o, sem o engano do véu e do pano
E leia-o, sem o segredo da carne e da ternura...

Nuca pedi nada

Nunca pedi que me trouxessem desamor
E mesmo assim trouxeram-me essa dor, bailando
A um feio menestrel de harpas, e eu, agonizando,
Como um anjo escarnecido, pedia amor...

Nunca pedi que me trouxessem a flor
Que apodrecia entre os túmulos, transtornando
Os ossos em nublado incenso, e, negrejando,
Trazem-me os cabelos frios e o bolor...

Ò amplidão, o que trazes para mim é funéreo!
São melancolias expulsadas dos necrotérios
Junto com seitas sádicas e meditação do errôneo

Abismo, que dilacera a alma como um cão
E chicoteia como um verme!, ó sonâmbulo coração,
Não deixe que eu também me transforme num demôneo!

O cemitério

O meu coração é como um cemitério triste,
Mórbido, cheio de morcegos desolados,
Com caveiras e abutres desalmados
Onde só a minha alma assiste...

Toca-me e fere-me todas as bestas que resistem
Ficar comigo e meus caixões negregados.
Muitas vezes morrí! Ò meus cabais malvados,
Que para matar-ma mais vezes, aqui, ainda persistem!

Sofro como uma ovelha escortejada lá fora,
Morto e escarnecido antes da aurora...
Ò minhas caveiras e morcegos, na treva abandonada,

Onde, fenecidos todos divagam devassando
Meus assombrados túmulos, e eu, chorando,
Passo, orvalhando as cruzes na madrugada!

Desilusão difícil

Eu, como um ser fatídico do ocultismo
Ruflo as asas histéricas e sem cura
Como a carnificina da mistura
De tribolitas e ossos nos sarcófago do sadismo...

E procuro, como um ninja fantasma do ilusionismo,
Não a luz rútila nem a sombra escura,
Mas sim de outro mistério uma ruptura
Além da alma.; Não melhor, além do esoterismo!

Sair do átomo material e espiritual, voracíssimo
Sumo incógnito, livre e magnificentissimo!
Profundo, mais profundo ainda... mais vão...

Mas sangra-me a alma nessa sepultura compelida
Estar preso e trancado nesta carne ferida,
E de saber que o meu corpo é um caixão.

Sentimento pocaliptico

Apressa-te, sombra da morte, não espera
Que as crianças amamentem-se nos seios de suas mães,
Cobre os campos, cobre-os de dor e de cães
Ò cavaleiro sem estio e sem primavera!

Vem sem esperança, desvairada fera,
Vem nas cores dos tisunames e dos turbilhões,
Dilacerar as mágoas e os podres corações...
Vem, punge de gemidos a rotativa esfera...

Que junto aos passos do dragão, com sua estendida
calda serpeia ao longe - vermelha e comprida -
E arraste para os abismos com um gesto raquítico

As almas maculadas dos manicômios que aparecem
Como morcegos ao cume de cadáveres, e adormecem
Sem morte, ao mesmo sentimento apocalíptico!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Homem-pesar

Tu, que és homem estúpido e sedento,
Guerreiro sombrio.
Tu, que cantas entre as brisas da escuridão
Transeute vadio!

Tu, que és o culpado da morte das crianças
Na guerra,
Que no oceano de pranto lavou os pé
E feriu a terra!

Tu que levas nos olhos caídos e tortos
De tanto pesar
A maldição do furor denegrido
De tanto matar...

Apressa-te rápido te arrepender
De teus atos nojentos.
Punja-te a face e obumbra-te de lágrimas
Em teu tormento...

Atormentar-te-á o terror do Diabo
Quando chegar
A hora de tua morte e de teu horror
Muito irá chorar!

Vai, miserável, esconde-te nas cavernas
De tua podridão,
È tão ignóbil tuas palavras e tua vida,
È tão triste o teu coração!

Vai na presença medonha da treva
Cantar teu desgosto.
Vai nas harpas fúnebres da morte cobrir
De pranto o teu rosto...

Amigo do nada, suor perdido, ninguém
Te amou,
Nem mesmo teu pai o acalentou. ò! nem mesmo a tua mãe
Te amamentou...

Vai tu sozinho e a tua alma, ddescendente
De praga,
E carrega em tua chaga infinita, a mágoa que
Nuncfa se apaga!

Alma sem ócio

As vozes das sepulturas me chamam
E eu, Canto e bailo semi-morto.
Choram as fibras do meu corpo
Podre pranto e harpas me aclamam...

Já tão rápido o silêncio me colhe
E minha fronte no caixão repouso.
E o sepulcro, com seu relevo doloroso
Como um gole da morte me tolhe!

Com um par de asas levanto voo,
E com meu grito enervante ecoo.
AH, que necrófago horrendo é aquele?

O monstro ao me fitar salta em minhas asas!
Ah, não entendo, que é que me abrasas,
Não tenho descanço nem depois de morto!?

O poeta morto

Sobre o cume de cadáveres recama
E emerge a falange dos germes vagarosos
Que escorrem sobre os crânios dolorosos
E comem as últimas fibras da lama!

Que pensou Deus ao criar vermes nojentos?
Ah, estes vermes que o imundo coração
È o rumor vertiginoso da infecção,
E irmão de sepulcros macilentos...

Ò,é festa de cadáveres, e assisto
De cima. Não entendo, e ainda insisto
Fitar a face inerte de um morto...

Sim, vejo, não faz sentido, parece que não existo!
Meu Deus! e o miserável cadáver que fito
È o próprio cadáver do meu corpo!